segunda-feira, 4 de agosto de 2008

da série: rituais

Voltar de uma rave é um ritual.
Não que ir até ela e estar nela também não sejam rituais, ou façam parte do mesmo ritual, mas é que eu não quero ficar aqui até amanhã! VOLTAR de uma rave é um ritual.
Eu gosto de voltar dirigindo. Tá certo que teve aquelas vezes que não fiz isso, mas a mulher que me trouxe de volta não está por perto no momento, então rituais mudam.
Voltar de uma rave é um ritual ("focus, man! Focus!"):
Eu gosto de voltar dirigindo, afinal a situação exige uma pessoa tranquila ao voltante. Nínguém melhor do que eu.
A gente volta com um pouco do barulho da festinha ainda nos ouvidos e antes, durante, ou enquanto eu levo as pessoas para casa, invariavelmente passamos em algum lugar para comer algo.
Depois da tarefa - deixar meus amigos em suas casas com segurança - árdua e alegremente cumprida, sempre agradecendo a todos calorosamente pelos momentos agradáveis, eu chego na minha casa e estaciono na minha vaga de alguma maneira diversa da última vez que fiz isso.
Paro, recolho meu perteces de dentro do veículo ao mesmo tempo que já tento trazer novamente a ordem para o local. Saio do carro, analiso minuciosamente para ter certeza que o mesmo continua inteiro como sempre, lamento pela sujeira inevitável, agradeço-lhe mais uma vez pela parceria e entro em casa mantendo, ou tentando manter, o silêncio que a hora exija.
Após me livrar da roupas sujas (imundas!) naquele lugar distante do meu quarto e de dar aquela passadinha rápida e despretenciosa pela geladeira tomo aquele banho. Sempre lembrando de passar aquele condicionador no cabelo só pra dar aquela hidratada! A quantidade de condicionador varia, afinal o cabelo nunca está do mesmo tamanho, mas a qualidade tem que ser sempre aquela.
Devidamente enxuto e vestido numa roupa confortável e quentinha, dorme-se.
Até acordar.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Saudade.²

Ela é mesmo como fome, só se mata quando se come a presença.
É, acreditem. Comprovei esses tempos aí.
Banquetear-se com a presença de alguém que por muito ficou longe é muito bom!
Ou até quando é você quem fica longe: aí você come até ter que abrir o botão da calça, ou tomar um daqueles remédios pra gordo que come demais e passa mal.

Mas e quando não se tem mais a presença pra matar a fome de saudade?
Aí fo-deu.
Você faz uma dieta forçada. Passa a se alimentar apenas de fotos, objetos, lembranças e histórias...
E como toda dieta, no começo sempre é muito difícil. A gente acha que não vai aguentar, que não tem força de vontade suficiente, que quer mesmo é voltar a comer aquela presença até empanturrar!
Mas não tem como, pararam de vender aquela comida que você gostava tanto, ou faz mal pro seu coração, ou simplesmente não existe mais.
E nesse hora que a saudade é o revés do parto, é arrumar o quarto de um filho que já morreu...
Mas nesses casos, aquela fisgada no membro que já se perdeu aos poucos vira uma rotina, torna-se algo chato e aprende-se a conviver com a ausência.

Preferível (e questionável!) esta do que aquela, que, acompanhada da expectativa do banquete, dói latejada!

(8)"... é prego, parafuso. Quanto mais aperta, tanto mais difícil arrancar... "